quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SESSÃO 3: 21 DE OUTUBRO DE 2013



KING KONG (1933)


É muito difícil olhar para “King Kong” apenas como um filme de mera ficção científica, de terror ou de fantasia. “King Kong”, na sua versão de 1933, aquela que mais longe nos projecta nos terrenos do simbólico e da introspecção psicanalítica, é, na verdade, um terreno extremamente fértil para análises dos mais variados tipos. Realmente esta história de um gorila gigante que é feito prisioneiro numa misteriosa e perdida ilha selvagem e trazido para as luzes da anunciada civilização, sendo exibido como monstro de feira para gáudio de especuladores sem escrúpulos, não pode deixar de merecer reflexões mais profundas, tanto mais que se lhe devem acrescentar outras ramificações.
Temos aqui uma história de amor impossível, “louco”, de um gorila gigante por uma loura espampanante que grita desalmadamente sempre que se encontra nas situações mais perigosas e angustiantes. A perseguição, pode mesmo dizer-se o assédio, que King Kong empreende a Ann Darrow (Fay Wray) e que o leva a escalar arranha-céus e combater aviões nos céus de Nova Iorque, é algo de profundamente comovente no plano emocional e libidinal. Esta parábola da bela e o monstro não deixa ninguém indiferente e serviu de base a muitos estudos. King Kong é hoje um símbolo da força bruta e de uma certa ingenuidade primitiva, mas igualmente uma referência de uma inocência agredida, violada na sua integridade, e assassinada em nome do lucro fácil e da ganância de especuladores. O que é tanto mais de sublinhar quanto se sabe que este filme é um reflexo da grande depressão que se abateu nos EUA durante a década de 30 do século passado e de que o próprio filme dá testemunho através de algumas sequências.
Este é um daqueles filmes que só foi possível por ter sido produzido antes da adopção do código Hays, tal é a sua carga erótica e a sua simbologia libidinal. Produzido e realizado por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, que só aparecem creditados no genérico como produtores, parte de um argumento escrito por Ruth Rose e James Ashmore Creelman, segundo uma história do próprio Meriam C. Cooper (que confessou tê-la sonhado) e Edgar Wallace.


A obra começa no porto de Nova Iorque, com um cargueiro pronto a partir para uma aventura misteriosa. Uma equipa de cinema prepara-se para viajar até um destino desconhecido de todos, excepto do produtor Carl Denham (Robert Armstrong), que todavia se vê a braços com um contratempo de última hora. A actriz que estava escalada para seguir com eles desistiu à última hora e falta portanto uma mulher para seguir viagem e desempenhar o papel de “bela” nessa inquietante história que se anuncia. Mas Carl Denham tem resposta para tudo e não se dá por vencido. Basta descer às ruas de Nova Iorque e deambular um pouco pelas filas de desempregados e esfomeados que se sucedem à porta das instituições de assistência e das sopas de pobres. Estamos no início dos anos 30 e a crise aperta. Num desses locais de desespero, à beira de desfalecer, encontra-se Ann Darrow (Fay Wray), que aceita partir nessa mesma noite para destino desconhecido. A bordo do Venture, dirigem-se para o Oceano Indico, a oeste de Sumatra, procurando uma ilha desconhecida e de difícil acesso. Entretanto, durante a viagem e entremeando com sessões de ensaios e testes fotográficos, Ann apaixona-se por Jack Driscoll (Bruce Cabot), uma espécie de imediato do barco.
À chegada à ilha, descobrem que os nativos preparam uma cerimónia sacrificial em honra de Kong, um gorila monumental que vive do outro lado de uma forte muralha que protege as tribos hindus da sua ameaça. As peripécias aventurosas multiplicam-se mas o resultado é o esperado: Kong acaba por raptar Ann, escapando para o interior de uma selva pré-histórica onde defronta dinossauros de vária espécie (Stegossaurus, Brontossauros, etc.) e outros gigantescos animais. Cuidando de Ann com esmerado desvelo, Kong apaixona-se por essa bela “mulher de ouro” (assim a chamam os indígenas, deslumbrados pelo seu louro cabelo), a quem não hesita a retirar algumas roupas, como quem desfolha uma flor.
Entretanto, Driscoll, Denham, e a tripulação, que se vai perdendo pelo caminho, vítima de sucessivos ataques, perseguem a besta. Driscoll consegue recuperar Ann, mas Kong não cede e persegue-os, regressando à aldeia nativa, que destrói, sendo finalmente capturado por Denham que o leva para Nova Iorque, onde o exibe na Broadway como “A oitava maravilha do mundo”, num espectáculo que acaba em tragédia. Esta transposição de Kong para a dita civilização irá culminar no Empire State Building, de novo com Ann nas manápulas amorosas do gorila. Quando este se desmorona do cimo do maior arranha-céus do mundo e cai com fragor no chão, os polícias e jornalistas concluem que os aviões o mataram. Mas Carl Denham tem outra teoria, que transforma numa das réplicas mais famosas da história do cinema: "Oh, no, it wasn't the airplanes...it was Beauty who killed the Beast." (Oh, não, não foram os aviões… foi a Bela que matou a Besta).
Assim se criou um dos maiores mitos cinematográficos de sempre. Em 1991, este filme foi considerado pela “Library of Congress” como “uma obra de alto significado cultural, histórico e estético”, merecendo por isso ser preservada e figurar no “National Film Registry”. Conheceu várias sequelas medíocres e duas novas versões, em estilo de super-produção, que todavia nunca atingiram o esplendor do original: uma em 1976, dirigida por John Guillermin, outra em 2005, realizada por Peter Jackson.


Para lá de todas as referências que se possam fazer à excelente realização e sedutora interpretação, à belíssima fotografia a preto e branco e à direcção artística que cria admiráveis cenários poéticos numa selva toda ela artificial, este “King Kong”, de 1933, ficará para sempre ligado a dois nomes que tornaram possível esta obra-prima fantástica. Willis O'Brien, que criou King Kong e demais fauna pré-histórica, através de um aperfeiçoado mas rudimentar processo de animação que ficou conhecido por “stop-motion”, e a partitura musical de Max Steiner.
Todo o filme é uma sucessão de sequências que permanecem inesquecíveis para quem o viu, nem que seja uma única vez. Muito se progrediu em efeitos especiais desde então, mas raras vezes o impacto onírico e fantástico foi o mesmo. As cenas nas ruas de Nova Iorque, no interior do Ventura, na aldeia dos indígenas, as lutas de King Kong com os seus companheiros de selva, a estreia de Kong na Broadway, as perseguições que se lhe seguem, a escalada de Kong pelos arranha céus e a sequência final no alto do Empire State Building são momentos únicos. Mas absolutamente inesquecível é a forma amorosa como a Besta segura na sua mão a Bela figurinha da “mulher de ouro” que acaba por ser a sua perdição. O tema da “Bela e o Monstro” acabava de ter uma das suas versões mais marcantes. O amor nunca mais voltaria a ser o mesmo. E Fay Wray nunca mais voltaria a gritar da mesma forma.

KING KONG
Título original: King Kong
Realização: Merian C. Cooper, Ernest B. Schoedsack (EUA, 1933); Argumento: James Ashmore Creelman, Ruth Rose, Leon Gordon, a partir de ideia de Merian C. Cooper e Edgar Wallace, segundo história de Merian C. Cooper e Edgar Wallace; Produção: David O. Selznick, Merian C. Cooper, Ernest B. Schoedsack; Música: Max Steiner; Fotografia (p/b): Edward Linden, J.O. Taylor, Vernon L. Walker, Kenneth Peach; Montagem: Ted Cheesman; Design de produção: Carroll Clark; Direcção artística: Carroll Clark, Alfred Herman; Decoração: Carroll Clark, Alfred Herman, Thomas Little, Ray Moyer; Guarda-roupa: Walter Plunkett; Maquilhagem:  Mel Berns, Dot Carlson, Dotha Hippe, Sam Kaufman; Assistentes de realização: Doran Cox, Walter Daniels, Ivan Thomas; Departamento de arte: Van Nest Polglase; Som: Murray Spivack; Efeitos especiais: Harry Redmond Jr., Harry Redmond Sr., Frank D. Williams; Efeitos visuais: C. Dodge Dunning, Willis H. O'Brien; Companhias de produção: RKO Radio Pictures, A Merian C. Cooper and Ernest B. Schoedsack Production; Intérpretes: Fay Wray (Ann Darrow), Robert Armstrong (Carl Denham), Bruce Cabot (John Driscoll), Frank Reicher (Capitão Englehorn), Sam Hardy (Charles Weston), Noble Johnson (chefe nativo), Steve Clemente, James Flavin, King Kong, Walter Ackerman, James Adamson, Van Alder, Frank Angel, Roscoe Ates, Ralph Bard, Reginald Barlow, Eddie Boland, Harry Bowen, Jack Chapin, Merian C. Cooper (piloto do avião que mata King Kong), Ernest B. Schoedsack (operador de metralhadora no avião que mata King Kong), etc. Duração: 100 minutos; Distribuição em Portugal: Costa do Castelo (DVD); Classificação Etária: M/12 anos; Estreia em Portugal: 2 de Janeiro de 1934.

MERIAN C. COOPER 
(1893–1973)
Merian Coldwell Cooper nasceu a 24 de Outubro de 1893, em Jacksonville, Flórida, EUA, e faleceu a 21 de Abril de 1973, com 79 anos de idade, em San Diego, Califórnia, EUA. Estudou na Lawrenceville School, integrando depois a United States Naval Academy, em Annapolis, Maryland, entre 1911 e 1915. Mais tarde, frequentou o Georgia Institute of Technology, em Atlanta, donde saiu formado, em 1917. Intensa carreira militar, servindo na infantaria dos EUA, em 1916, depois na aviação. Integrou o Kosciusko Flying Squadron, como tenente-coronel. Foi correspondente de guerra e serviu como coronel durante a II Guera Mundial. Integrou o staff do General Claire Chennault na China, reformando-se como general brigadeiro. Conheceu na década de 20 Ernest B. Schoedsack, com quem passou a colaborar em muitos filmes, sobretudo como produtor. Foi o produtor favorito de John Ford, com quem trabalhou em diversas obras, como “O Fugitivo” (1947), “Forte Apache” (1948), “3 Godfathers” (1948), “Os Dominadores” (1949), “Rio Grande” (1950), ou “O Homem Tranquilo” (1952).
Foi um dos responsáveis da RKO, sucedeu a David O. Selznick como vice presidente encarregado da produção. Em 1947, fundou com John Ford a Argosy Pictures. Co-produtor do primeiro filme em Cinerama. Oscar especial da Academia em 1952.

Filmografia
(como realizador)
1925: Grass: A Nation's Battle for Life (documentário) (realização não creditada)
1927: Chang (documentário)
1929: The Four Feathers (As Quatro Penas)
1933: King Kong (King Kong) (realização não creditada)
1935: The Last Days of Pompeii (Os Últimos Dias de Pompeia) (realização não creditada)
1952: This Is Cinerama (documentário)

ERNEST B. SCHOEDSACK 
(1893-1979)
Ernest Beaumont Schoedsack nasceu a 8 de Junho de 1893, em Council Bluffs, Iowa, EUA, e faleceu a 23 de Dezembro de 1979, em Los Angeles County, Califórnia, EUA, com 86 anos de idade. Foi director de fotografia, produtor e realizador. Fez o serviço militar como fotógrafo, esteve em França, em 1916, como capitão da Cruz Vermelha. Operador de imagem para Mack Sennett, fotógrafo freelancer, colaborador de Merian C. Cooper, que conheceu na Polónia, durante a guerra. Especialista em documentarismo, por aí começou, em 1925, com “Grass”. Ferido num olho durante a II Guerra Mundial. Casado com a actriz e argumentista Ruth Rose.

Filmografia:
(como realizador)
1952: This Is Cinerama (documentário) (não creditado como realizador)
1949: Mighty Joe Young (O Gigante Africano)
1940: Dr. Cyclops (O Dr. Cyclope)
1937: Outlaws of the Orient (Leis do Oriente)
1937: Trouble in Morocco
1935: The Last Days of Pompeii (Os Últimos Dias de Pompeia)
1934: Long Lost Father
1933: The Son of Kong (O Filho de King Kong)
1933: Blind Adventure
1933: King Kong (King Kong) (não creditado como realizador)
1933: The Monkey's Paw
1932: The Most Dangerous Game (O Malvado Zaroff)
1931: Rango
1929: The Four Feathers (As Quatro Penas)
1927: Chang (documentário)
1925: Grass: A Nation's Battle for Life (documentário) (não creditado como realizador)

FAY WRAY (1907-2004)
Vina Fay Wray nasceu Cardston, Alberta, Canadá, a 15 de Setembro de 1907 e faleceu a 8 de Agosto de 2004, com 96 anos, em Nova Iorque, EUA. Estreou-se como actriz em 1919 e teve actividade até 1980, tendo sido casada com John Monk Saunders (1928-1939), Robert Riskin (1942-1955) e Sanford Rothenberg (1971-1991). Ficou conhecida sobretudo por ser a protagonista de “King Kong” e pelos seus gritos em diversos filmes de terror (era chamada a "scream queen").
A maioria dos seus filmes é de baixa qualidade e de reduzido interesse. Durante o seu inicial período da Paramount fez dúzias de filmes de adolescentes. Depois passou aos filmes de terror e de aventuras, como “The Most Dangerous Game” (1932), “Doctor X” (1932), “Mystery of the Wax Museum” (1933), “The Vampire Bat” (1933),  “The Wedding March” (1928), “The Bowery” (1933) e “Viva Villa” (1934). Foi, pois, na RKO Radio Pictures, Inc., que ela ganhou o estrelato, com “King Kong” (1933), obra que a projectou para uma carreira com alguns bons papéis em filmes mais interessantes, ao lado de estrelas como Gary Cooper ou Spencer Tracy. Mas cedo resvala para a televisão e outras obras anódinas.

Filmografia:
(principais filmes depois de 1930)
1931: The Unholy Garden (Jardim Profano), de George Fitzmaurice
1932: The Most Dangerous Game (O Malvado Zaroff), de Ernest B. Schoedsack e Irving Pichel
1932: Doctor X (O Monstro), de Michael Curtiz
1933: The Woman I Stole, de Irving Cummings
1933: Ann Carver's Profession (A Profissão de Ann Carver), de Edward Buzzell
1933: Below the Sea (Segredos do Mar), de Albert S. Rogell
1933: King Kong (King Kong), de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack
1933: Mystery of the Wax Museum (Máscaras de Cera), de Michael Curtiz
1933: The Vampire Bat (O Vampiro Invisível), de Frank R. Strayer
1934: Mills of the Gods, de Roy William Neill
1934: Viva Villa! (Viva Villa!), de Jack Conway, Howard Hawks, William A. Wellman      
1934: Woman in the Dark, de Phil Rosen
1934: The Richest Girl in the World (A Vénus Loira), de William A. Seiter
1934: The Affairs of Cellini (O Aventureiro de Florença), de Gregory La Cava
1934: Madame Spy (À Sombra da Guilhotina), de Karl Freund
1936: They Met in a Taxi (Encontraram-se Num Táxi), de Alfred E. Green
1937: Murder in Greenwich Village, de Albert S. Rogell
1937: It Happened in Hollywood (Aconteceu em Hollywood), de
1941: Melody for Three (Melodia para Três), de Erle C. Kenton
1941: Adam Had Four Sons (Os Quatro Filhos de Adão), de Gregory Ratoff
1953: Small Town Girl (Uma Rapariga da Província), de László Kardos
1953: Treasure of the Golden Condor (O Tesouro do Condor), de Delmer Daves
1955: Hell on Frisco Bay (Inferno em São Francisco), de Frank Tuttle
1955: Queen Bee (A Abelha Mestra), de Ranald MacDougall
1955: The Cobweb (Paixões Sem Freio), de Vincente Minnelli
1957: Tammy and the Bachelor, de Joseph Pevney
1957: Crime of Passion (Da Ambição ao Crime), de Gerd Oswald
A partir dos anos 50, aparece sobretudo em séries de televisão, como Cavalcade of America (1953), The Pride of the Family (1953-55), Damon Runyon Theater, 20th Century-Fox Hour, Screen Directors Playhouse, The 20th Century-Fox Hour (1955), Jane Wyman Presents The Fireside Theatre (1955-19579, Alfred Hitchcock Presents (1958-1959), The David Niven Show (1959), Playhouse 90 (1959), General Electric Theater (1957-1961), Perry Mason (1958-1965) ou Gideon's Trumpet (1980,  último trabalho).

WILLIS H. O'BRIEN 
(1886-1962)
Willis Harold O'Brien nasceu a 2 de Março de 1886, em Oakland, Califórnia, EUA, e faleceu a 8 de Novembro de 1962, em Los Angeles, Califórnia, EUA, com 76 anos de idade.
Oriundo de uma família de origem irlandesa, tornou-se célebre como um dos mais inventivos e perfeccionistas animadores em “stop-motion”, sendo um especialista em efeitos especiais que influenciou todos os técnicos e artistas desta arte, a começar por Ray Harryhausen. São dele os efeitos especiais de filmes como “The Lost World” (1925), “King Kong” (1933) e “Mighty Joe Young” (1949). Em 1950 a Academia de Hollywood concede-lhe o Oscar para Melhores Efeitos Especiais.

Antes de se iniciar em efeitos especiais, Willis O'Brien passou pior inúmeras actividades, rancheiro, operário, cowboy, barman, competiu em rodeos e foi guia de paleontologia, na região de Crater Lake, onde desenvolveu o seu interesse por dinossauros. Começou a desenhar e esculpir, foi ajudante de arquitectos e cartoonista desportista no “San Francisco Daily News”. Foi boxeur profissional Herman Wobber convidou-o para realizar o seu primeiro filme, “The Dinosaur and the Missing Link: A Prehistoric Tragedy”, em 1915. Thomas A. Edison ficou impressionado com o filme e contratou-o para animar várias curtas-metragens sobre temas pré-históricos. “The Lost World”, segundo obra de Arthur Conan Doyle, lança-o definitivamente no cinema. “King Kong” consagra-o. Seguem-se “Son of Kong” (1933), “The Last Days of Pompeii” (1935), “The Dancing Pirate” (1936), “Tulips Shall Grow” (1940), “Mighty Joe Young” (1949, Oscar), “This Is Cinerama” (1952), “The Animal World” (1956) (de colaboração com Ray Harryhausen), “The Beast of Hollow Mountain” (1956), “The Black Scorpion” (1957), “The Cosmic Monster” (1958), “Behemoth, the Sea Monster” (1959), “The Animal World” (1957), “The Lost World” (1960, como consultor técnico) e “It's a Mad, Mad, Mad, Mad World” (1963).

SESSÃO 2 (DUPLA): 14 DE OUTUBRO DE 2013



FRANKENSTEIN (1931)


“Frankenstein” é um dos temas mais glosados da mitologia fantástica. “Frankenstein: or the Modern Prometheus” (Frankenstein ou o Moderno Prometeu) foi uma criação romântica de uma jovem escritora inglesa, Mary Shelley, publicada, pela primeira vez, em 1831, em três volumes, sem indicação de autoria. A escritora tinha apenas 19 anos, chamava-se ainda Mary Wollstonecraft Godwin, e conta-se que, encontrando-se a passar o verão junto do lago Léman, juntamente com o futuro marido, Percy Bysshe Shelley, e ainda Lord Byron, John Polidori e outros escritores, se viram obrigados a permanecer fechados durante alguns dias, tendo então sido sugerido por Lord Byron que cada um deles deveria escrever uma história fantástica, tendo como inspiração as lendas alemãs de fantasmas. 
Mary Shelley foi das últimas a apresentar trabalho feito, mas a que mais lucrou com esse interlúdio de clausura. O seu romance, relatando as aventuras de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constrói um monstro no seu laboratório, à revelia dos professores e do comum dos mortais, tornar-se-ia rapidamente uma das obras de maior projecção no campo da literatura fantástica de todos os tempos. A edição definitiva, já assinada pela autora, e publicada num único volume, aparece somente em 1831, e, sendo a terceira, é a considerada definitiva pelos estudiosos da obra.
O tema central é a desmedida soberba do Homem que se quer sobrepor a Deus e criar um ser seu semelhante. Tema de ressonâncias metafísicas, que tenta opor os limites da ciência à religião, mostrando os constrangimentos da primeira perante a grandiosidade da obra divina que ninguém deve contestar, sob pena de sofrer os efeitos da sua temeridade. É o que acontece com o jovem Victor Frankenstein, cuja “criatura” por si criada exorbitará da sua condição de ser “normal”, para se assumir como um perigoso assassino.
Acontece que, no filme de James Whale, o argumento de Francis Edward Faragoh & Garrett Fort, Robert Florey e John Russell (estes dois últimos não creditados), partindo da peça teatral de Peggy Webling, adaptada por John L. Balderston do romance de Mary Shelley, atenua em muito esta temeridade, dado que a “criatura” se mostra um autêntico assassino porque o ajudante de Henry Frankenstein que é incumbido de roubar um cérebro de uma aula de anatomia da universidade local, acaba por trocar o “normal” por um “anormal”, pertencente a um criminoso. Logo, nada nos diz que a experiencia não seria um sucesso total, se não tivesse existido esse prévio erro de casting de cérebros. No filme, tal como o caso nos é apresentado, e apesar de Henry Frankenstein se orgulhar de disputar a Deus a prerrogativa de criar vida, e de a moralidade da obra procurar sublinhar o facto de ele ser castigado por esse excesso, a verdade é que não se fica a saber se a experiência seria ou não um sucesso, não fora a troca de cérebros que tudo põe em causa.


De resto o filme, mantendo-se embora fiel ao essencial do romance, acaba por alterar em muito a intriga de Mary Shelley, condensando-a. No romance, por exemplo, toda a história é contada através de várias cartas de um tal capitão Robert Walton dirigidas a sua irmã. O capitão comanda uma expedição marítima que procura encontrar uma passagem para o Pólo Norte e, durante a permanência em território gelado, avista a “criatura” de Victor Frankenstein num trenó puxado por cães. O navio fica preso, mas, ao libertar-se do gelo, encontra vagueando numa ilha de gelo  o moribundo doutor Victor Frankenstein que, depois de recolhido e socorrido, narra a sua história ao referido capitão Walton, que por sua vez a transmite em cartas à sua irmã. Esta estrutura narrativa de intriga dentro de intriga desaparece do filme, que torna a trama muito mais linear.
O filme inicia-se por um curioso intróito, durante o qual o produtor Carl Laemmle Jr. alerta os espectadores para os perigos de assistirem à obra que a seguir será projectada, dada a natureza das suas imagens altamente impressionantes. Hitchcock “avant la lettre” ou a ideia onde se veio basear o mestre do suspense para muitas das suas imagens publicitárias posteriores.
Depois, a ameaça instala-se. As imagens são realmente impressionantes e pode dizer-se que nunca vistas por essa altura no cinema. Ao cair da noite, num lúgubre cemitério, procede-se ao enterro de alguém, enquanto, não muito longe, Henry Frankenstein (no filme chama-se Henry e não Victor) e o seu ajudante Fritz espreitam a altura propícia para desenterrarem o caixão e roubarem o corpo. “O cadáver está à espera de uma nova vida que vem aí”, explica Frankenstein. Aquele corpo só não é o bastante, e vão libertar da forca um outro. Falta o cérebro, que tem de estar em óptimas condições. Descreve-se a diferença entre o cérebro “normal” de uma pessoa de bem e o “anormal”, de um criminoso, o que prepara a troca efectuada por Fritz no laboratório da universidade de medicina.
Fica-se a saber que Henry Frankenstein se interessa particularmente por electrobiologia e que tem conduzido avançadas experiências num laboratório pessoal, numa fantasmagórica torre no alto de uma colina, encimada por um pára-raios que capta a electricidade necessária às suas práticas. Percebe-se ainda que interrompeu a colaboração com o professor Waldman que acha as suas tentativas altamente perigosas. Não se deve desafiar Deus. Entretanto, a namorada, Elizabeth, e o amigo Victor Moritz vivem preocupados com a obsessão de Henry Frankenstein e todos resolvem visitá-lo na sua torre, precisamente na noite de uma violenta tempestade, há muito aguardada e propícia à sua derradeira experiência. Finalmente a “criatura” será criada e com ela o “monstro”.


A primeira aparição do “monstro” é magnificamente encenada. Surge de costas, envolto numa névoa, volta-se lentamente e imaginamos o olhar estarrecido dos espectadores de 1931. Um rosto atravessado por cicatrizes, eléctrodos a saírem-lhe do pescoço, achatado na cabeça, olhar perdido e uma sensação de força desmedida e incontrolável. Tentam dominá-lo pelo fogo, oscilando uma tocha à sua frente, mas apenas provocam maior ira. Desencadeadas as forças do mal, ou do desconhecido, a “criatura” liberta-se, foge da torre, depois de assassinar Fritz. Vagueia pela paisagem bucólica e encontra, à beira de um lago, uma miudinha com quem brinca, trocando flores e lançando-as à água, onde ficam a boiar. A “criatura” oscila entre a inocência e a ameaça. Para ele, percebe-se, não há Bem nem Mal, existem apenas divertidos jogos de flores. A criança é uma flor que ele “jogará” no lago. Sem maldade, mas para profundo desespero do pai da criança, que levará ao colo o seu cadáver para a cidade, em busca de justiça.
De inocência em inocência, de pureza em pureza, sempre ameaçando os mais fracos, as crianças e as mulheres (mas também os fracos de espírito, como Fritz, ou os velhos, como o Prof. Waldman), a “criatura” entra pela janela do quarto de Elizabeth quando esta, no seu branco e impoluto vestido de noiva, de longa cauda, se prepara para ir ao encontro de Henry para a celebração do casamento. Atravessa salas, provocando um belíssimo efeito visual, e encontra o “monstro” que a rapta e a conduzirá a um velho moinho, cuja silhueta se recorta de um céu nocturno pejado de perigos. Como sempre, será o fogo purificador a encerrar a tragédia.
Estamos no território da iniciação. Foi por aqui, por estes tempos, que tudo começou. Foi com filmes como este “Frankenstein”, de James Whale, que se encontraram os efeitos chaves que mais tarde se tornariam os estereótipos de um género (e que tão bem foram parodiados por Mel Brooks no seu magnífico “Frankenstein Júnior”).
Com uma magnificência plástica invulgar, num preto e branco admirável, James Whale constrói uma obra-prima da mais pura emoção fantástica, com sequências inesquecíveis, personagens inolvidáveis que se tornaram modelos para o futuro. Por seu turno, Boris Karloff atinge a fama com a construção dessa personagem de “monstro” que mistura inocência e força bruta e não mais deixará de atormentar o sono de qualquer cinéfilo apreciador do fantástico. A figura do “monstro” é de tal forma obsessiva que acabará por roubar o nome ao seu criador.  Boris Karloff acabará por ser, para sempre, Frankenstein. Ou não fosse ele filho de Henry Frankenstein.

FRANKENSTEIN
Título original: Frankenstein
Realização: James Whale (EUA, 1931); Argumento: Francis Edward Faragoh & Garrett Fort, Robert Florey, John Russell (não creditados), segundo peça teatral de Peggy Webling, adaptada por John L. Balderston do romance de Mary Shelley; Música: Bernhard Kaun; Giuseppe Becce; Fotografia: Arthur Edeson, Paul Ivano; Montagem: Clarence Kolster; Direcção de arte: Charles D. Hall; Maquilhagem: Jack P. Pierce; Assistentes de realização: Joseph A. McDonough; Departamento de arte Companhia de produção: Universal Pictures;: Ed Keyes, Herman Rosse; Som: C. Roy Hunter, William Hedgcock; Efeitos especiais: John P. Fulton, Ken Strickfaden; Produção: E.M. Asher, Carl Laemmle Jr.; Intérpretes: Colin Clive (Henry Frankenstein), Mae Clarke (Elizabeth), John Boles (Victor Moritz), Boris Karloff (monstro), Edward Van Sloan (Dr. Waldman), Frederick Kerr (Barão Frankenstein), Dwight Frye (Fritz), Lionel Belmore (Herr Vogel, burgomestre), Marilyn Harris (Maria, a criança), Arletta Duncan, Francis Ford, Michael Mark, Pauline Moore, Cecilia Parker, Carl Laemmle (apresentador), etc. Duração: 71 minutos; Distribuição em Portugal: Humberto da Costa (cinema); Universal (DVD); Estreia em Portugal: S. Luiz, a 1 de Janeiro de 1933; Classificação etária: M/12 anos.

JAMES WHALE (1889-1957)
James Whale nasceu em Dudley, Inglaterra, a 22 de Julho, 1889. Foi o sexto de sete filhos de um casal, ele metalúrgico, ela enfermeira. Todos os irmãos se empregaram na indústria, mas James começou como sapateiro, antes de se inscrever num curso da Escola de Artes de Dudley (Dudley School of Arts and Crafts). Em Outubro de 1915, alistou-se no exército, no regimento de Worcestershire, participando na I Guerra Mundial, e foi feito prisioneiro em Agosto de 1917. Escrevia, desenhava e sentiu o apelo do palco. Terminada a guerra, volta para Birmingham e envereda por uma carreira teatral. Em 1928 dirige uma peça de R. C. Sherriff, “Journey's End”, com Laurence Olivier, então em início de carreira. A peça teve sucesso e a companhia mudou-se para o teatro de West End, desta feita com o actor Colin Clive no papel principal. Whale voltou a dirigir a versão que subiu aos palcos da Broadway e a adaptação para o cinema feita por Hollywood, tendo Colin Clive repetido seu papel no filme.
O grande momento de glória de James Whale no cinema terá sido na década de 30, quando realizou vários filmes de características fantásticas para a Universal Pictures: “Frankenstein” (1931), “The Old Dark House” (1932), “Bride of Frankenstein” (1935), “The Invisible Man” (1933), com excelentes resultados artísticos e de bilheteira.
Particularmente influenciado pelo cinema de alguns expressionistas alemães, nomeadamente F. W. Murnau, Whale ajudou a impor em Hollywood alguns actores ingleses, como Colin Clive, Boris Karloff, Gloria Stuart, Elsa Lanchester, e Claude Rains. Dirigiu ainda vários outros trabalhos interessantes, como “Waterloo Bridge” (1931), “Show Boat” (1936), produzidos por Carl Laemmle, Jr., “The Man in the Iron Mask” (1939), para o produtor Edward Small, “The Road Back” (1937), uma espécie de sequela de “All Quiet on the Western Front”, que viria a ser remontado pelo estúdio, e se assumiria um enorme fracasso na estreia. Em 1937, rodou “The Great Garrick”, para a Warner Brothers, e, mais tarde, “Port of Seven Seas” para a MGM e “Wives Under Suspicion”, seu derradeiro filme para a Universal. “Green Hell”, um filme de aventura na selva com Douglas Fairbanks, Jr., Joan Bennett e Vincent Price, foi a sua última longa-metragem.
Homossexual assumido, morava com o produtor David Lewis que divulgou uma curta nota de suicídio de Whale em 1987. Whale sofria de depressão e suicidou-se na sua casa da Califórnia, afogando-se na piscina, no dia 29 de Maio de 1957, com 67 anos de idade.
James Whale é mencionado no romance “Father of Frankenstein”, de Christopher Bram, que foi adaptado ao cinema em “Gods and Monsters”, de Bill Condon (1998), título que ganhou o Oscar para melhor argumento adaptado. Ian McKellen interpretava a figura do cineasta. Existem biografias de James da autoria de Mark Gatiss (“James Whale: A Biography” ou “James Whale: the Would-Be Gentleman”) e de James Curtis (“James Whale: A New World of Gods and Monsters”). Em 2002, foi erigida uma estátua em sua homenagem em Dudley, sua terra natal. A obra reproduz uma bobine de filme com o rosto de Frankenstein, a sua realização mais célebre.

Filmografia:
1930: Journey's End
1930: Hell's Angels (Os Anjos do Inferno), de Howard Hughds (Edmund Goulding e James Whale,  não creditados)
1931: Frankenstein (Frankenstein)
1931: Waterloo Bridge
1932: Impatient Maiden
1932: The Old Dark House
1933: By Candlelight (Curto Circuito)
1933: The Invisible Man (O Homem Invisível)
1933: The Kiss Before the Mirror (O Beijo Defronte do Espelho)
1934: One More River
1935: Remember Last Night?
1935: Bride of Frankenstein (A Noiva de Frankenstein)
1936: Show Boat (Magnólia)
1937: The Great Garrick (O Grande Garrick)
1937: The Road Back (Após a Derrota)
1938: Port of Seven Seas (O Porto dos Sete Mares)
1938: Wives Under Suspicion (A Razão Porque Matou)
1938: Sinners in Paradise
1939: The Man in the Iron Mask (O Homem da Máscara de Ferro)
1940: Green Hell (O Inferno Verde)
1941: They Dare Not Love (Após a Derrota) (Victor Fleming e Charles Vidor, não creditados)
1949: Hello Out There (curta-metragem, rodada como antologia cinematográfica, não exibida comercialmente até 1967)

BORIS KARLOFF 
(1887-1969)
William Henry Pratt, mais conhecido pelo nome de Boris Karloff, nasceu a 23 de Novembro de 1887, em Camberwell, Londres, Inglaterra, e viria a falecer a 2 de Fevereiro de 1969, em Midhurst, Sussex, Inglaterra. Juntamente com Lon Chaney, Bela Lugosi e Vincent Price, Boris Karloff foi indiscutivelmente um dos grandes actores do fantástico, ficando para sempre ligado à figura do monstro de Frankenstein, que criou em 1931, no filme de James Whale.
Filho de Edward John Pratt Jr., Deputy Commissioner of Customs Salt and Opium, Northern Division, Indian Salt Revenue Service, e de Eliza Sarah Millard, estudou na Universdade de Londres e parecia destinado a uma carreira de diplomata. Mas emigrou para o Canadá, em 1909, e juntou-se a uma companhia de teatro do Ontário, onde adoptou o nome de “Boris Karloff”. Pouco depois vamos encontrá-lo nos EUA, em digressões pela província, em pequenas companhias, antes de surgir no cinema, ainda durante o sonoro, em obras como “The Deadlier Sex” (1920), “Omar the Tentmaker” (1922), “Dynamite Dan” (1924) ou “Tarzan and the Golden Lion” (1927). Ao mesmo tempo, era condutor de camiões em Los Angeles.
Foi, pois, em 1931, com a sua criação do “monstro” de Frankenstein, que a sua carreira de actor se impôs, rodando mais de uma centena e meia de filmes, a maioria de qualidade reduzida, mas alguns deles marcos na história do cinema, que fizeram do actor um ícone e uma lenda. Criou diversos tipos, quase sempre sinistros, em obras como “Scarface, o Homem da Cicatriz” (1932), “The Old Dark House” (1932), “O Palácio dos Mistérios” (1932), “A Múmia” (1932), “O Ressuscitado” (1933), ou “A Patrulha Perdida” (1934). Depois foi prolongando a carreira, ao longo de décadas, repisando de alguma forma os seus papéis de vilões e monstros. Em meados dos anos 60, regressou à ribalta, sendo chamado a interpretar vários excelentes trabalhos de alguns mestres do género, como Mario Bava, Roger Corman, Jacques Tourneur, Michael Reeves ou Peter Bogdanovich.
Foi casado com Grace Harding (1910 - 1913), Olive de Wilton (1915 - ?), Montana Laurena Williams (1920 - ?), Helene Vivian Soule (1924 - 1928), Dorothy Stine (1930 - 1946), de quem teve uma filha, e Evelyn Hope Helmore (1946 -  até à sua morte em 1969).

Filmografia:
1916: The Dumb Girl of Portici, de Lois Weber
1918: The Lightning Raider, de George B. Seitz
1919: The Masked Rider, de Aubrey M. Kennedy
1919: His Majesty, the American, de Joseph Henabery
1919: The Prince and Betty, de Robert Thornby
1920: The Deadlier Sex, de Jules Borney           
1920: The Courage of Marge O'Doone, de David Smith    
1920: The Last of the Mohicans (O Último Moicano), de Maurice Tourneur e Clarence Brown
1921: The Hope Diamond Mystery, de Stuart Paton         
1921: Without Benefit of Clergy, de James Young           
1921: Cheated Hearts, de Hobart Henley           
1921: The Cave Girl, de Joseph Franz   
1922: The Man from Downing Street, de Edward José     
1922: The Infidel, de James Young       
1922: The Altar Stairs, de Lambert Hillyer         
1923: Omar the Tentmaker, de James Young     
1923: The Woman Conquers, de Tom Forman    
1923: The Gentleman from America, de Edward Sedgwick
1923: The Prisoner (O Prisioneiro), de Jack Conway       
1924: Riders of the Plains, de Jacques Jaccard   
1924: The Hellion, de Bruce Mitchell     
1924: Dynamite Dan, de Bruce Mitchell  
1925: Parisian, de Alfred Santell           
1925: Forbidden Cargo, de Tom Buckingham     
1925: The Prairie Wife, de Hugo Ballin  
1925: Perils of the Wild, de Francis Ford            
1925: Never the Twain Shall Meet, de Maurice Tourneur
1925: Lady Robinhood, de Ralph Ince    
1926: The Greater Glory, de Curt Rehfeld         
1926: Her Honor, the Governor, de Chet Withey
1926: The Bells, de James Young          
1926: The Nickel-Hopper, de Hal Yates
1926: The Golden Web, de Walter Lang            
1926: The Eagle of the Sea (O Corsário Lafitte), de Frank Lloyd
1926: Flames, de Lewis H. Moomaw     
1926: Old Ironsides (A Fragata Invicta), de James Cruze
1926: Flaming Fury, de James Hogan    
1926: Valencia, de Dimitri Buchowetzki  
1926: The Man in the Saddle, de Clifford S. Smith
1927: Tarzan and the Golden Lion, de J. P. McGowan    
1927: Let It Rain (O Incorrigível), de Edward Francis Cline         
1927: The Meddlin' Stranger, de Richard Thorpe
1927: The Princess from Hoboken, de Allan Dale           
1927: The Phantom Buster, de William Bertram  
1927: Soft Cushions, de Edward Francis Cline     
1927: Two Arabian Knights (Dois Cavaleiros Árabes)), de Lewis Milestone 
1927: The Love Mart (O Mercado do Amor), de George Fitzmaurice        
1928: The Vanishing Rider, de Ray Taylor
1928: Burning the Wind, de Henry MacRae, Herbert Blaché         
1928: Vultures of the Sea, de Richard Thorpe
1928: The Little Wild Girl, de Frank Mattison      
1929: The Devil's Chaplain, de Duke Worne       
1929: The Fatal Warning, de Richard Thorpe
1929: The Phantom of the North (O Fantasma), de Harry S. Webb          
1929: Two Sisters, de Scott Pembroke    
1929: Anne Against the World, de Duke Worne
1929: Behind That Curtain, de Irving Cummings
1929: The King of the Kongo, de Richard Thorpe
1929: The Unholy Night, de Lionel Barrymore    
1930: The Bad One (A Ilha do Terror), de George Fitzmaurice    
1930: The Sea Bat (O Monstro Marinho), de Wesley Ruggles        
1930: The Utah Kid, de Richard Thorpe
1930: The Mother's Cry, de Hobart Henley         
1931: Sous les verrous ou Pardon Us, de James Parrott   
1931: The Criminal Code (Código Penal), de Howard Hawks      
1931: King of the Wild Horses (Rei dos Cavalos), de B. Reeves Eason e Richard Thorpe
1931: Cracked Nuts (Doidos Varridos), de Edward F. Cline          
1931: Young Donovan's Kid, de Fred Niblo          
1931: Smart Money, de Alfred E. Green
1931: The Public Defender (O Fidalgo Ladrão), de J. Walter Ruben        
1931: I Like Your Nerve (És o meu Tipo…), de William McGann   
1931: Graft, de William, de Christy Cabanne      
1931: Five Star Final, de Mervyn LeRoy  
1931: The Yellow Ticket (O Passaporte Maldito), de Raoul Walsh            
1931: The Mad Genius, de Michael Curtiz           
1931: The Guilty Generation, de Rowland V. Lee           
1931: Frankenstein (Frankenstein, o Homem que criou um Monstro), de James Whale     
1931: Tonight or Never, de Mervyn LeRoy          
1932: Behind the Mask, de John Francis Dillon    
1932: Alias the Doctor (Doutor), de Lloyd Bacon e Michael Curtiz
1932: Business and Pleasure, de David Butler     
1932: Scarface, Shame of the Nation (Scarface, o Homem da Cicatriz), de Howard Hawks           
1932: The Miracle Man (O Grande Milagre), de Norman Z. McLeod          
1932: Night World (Vida Nocturna), de Hobart Henley    
1932: The Old Dark House (A Velha Casa Sombria), de James Whale      
1932: The Mask of Fu Manchu (O Palácio dos Mistérios), de Charles J. Brabin, Charles Vidor, King Vidor   
1932: The Mummy (A Múmia), de Karl Freund   
1933: The Ghoul (O Ressuscitado), de T. Hayes Hunter  
1934: The Lost Patrol (A Patrulha Perdida), de John Ford           
1934: The House of Rothschild (A Casa dos Rothschild), de Alfred L. Werker 
1934: The Black Cat (Magia Negra), de Edgar G. Ulmer  
1934: Gift of Gab (O Grande Fanfarrão), de Karl W. Freund       
1935: Bride of Frankenstein (A Noiva de Frankenstein), de James Whale
1935: The Raven (O Corvo), de Lew Landers     
1935: The Black Room, de Roy William Neill      
1936: The Invisible Ray (O Raio Invisível), de Lambert Hillyer     
1936: The Walking Dead (Ressuscitados), de Michael Curtiz        
1936: Juggernaut, de Michael Curtiz      
1936: The Man Who Changed His Mind (Quatro Minutos de Vida), de Robert Stevenson      
1936: Charlie Chan at the Opera (Charlie Chan na Ópera), de H. Bruce Humberstone      
1937: Night Key (Olhos Sinistros)), de Lloyd Corrigan      
1937: West of Shanghai As Portas de Xangai), de John Farrow    
1938: The Invisible Menace, de Lloyd Corrigan   
1938: Mr. Wong, Detective (Mr. Wong, Detective), de William Nigh         
1939: Devil's Island (O Segredo da Ilha do Diabo), de William Nigh          
1939: Son of Frankenstein (O Filho de Frankenstein), de Rowland V. Lee    
1939: The Mystery of Mr. Wong (Mistérios da China), de William Nigh      
1939: Mr. Wong in Chinatown (Mr. Wong no Bairro Chinês), de William Nigh 
1939: The Man They Could Not Hang (O Homem que Venceu a Morte), de Nick Grinde     
1939: Tower of London (A Torre de Londres), de Rowland V. Lee          
1940: The Fatal Hour (A Hora Fatal), de William Nigh    
1940: British Intelligence, de Terrell O. Morse    
1940: Black Friday (Sexta-feira, 13), de Arthur Lubin     
1940: The Man with Nine Lives, de Nick Grinde   
1940: Doomed to Die, de William Nigh   
1940: Before I Hang (O Rei da Morte), de Nick Grinde    
1940: The Ape (Monstro Sábio), de William Nigh
1940: You'll Find Out (O Castelo dos Mistérios), de David Butler   
1941: The Devil Commands (O Diabo Manda), de Edward Dmytryk          
1942: The Boogie Man Will Get You (O Fantasma Persegue-te), de Lew Landers
1944: The Climax (Terror na Ópera), de George Waggner         
1944: House of Frankenstein (A Casa de Frankenstein), de Erle C. Kenton 
1945: The Body Snatcher (O Túmulo Vazio), de Robert Wise       
1945: Isle of the Dead (A Ilha dos Mortos), de Mark Robson        
1946: Bedlam(A Casa Sinistra), de Mark Robson
1947: The Secret Life of Walter Mitty (O Homem das Sete Vidas), de Norman Z. McLeod  
1947: Lured (Oito Desaparecidas), de Douglas Sirk         
1947: Unconquered (Inconquistáveis), de Cecil B. DeMille           
1947: Dick Tracy Meets Gruesome (Proezas de Bandidos), de John Rawlins      
1948: Tap Roots (Raízes Fortes), de George Marshall     
1948: The Emperor's Nightingale, de Jiří Trnka   (na versão inglesa)
1949: Abbott and Costello Meet the Killer (Abbott and Costello entre Assassinos), Boris Karloff, de Charles Barton
1951: The Strange Door, de Joseph Pevney        
1952: Colonel March Investigates, de Cy Raker Endfield (compilação de episódios da série televisiva “Colonel March of Scotland Yard”)
1953: The Black Castle (O Castelo do Pavor), de Nathan Juran   
1953: Abbott and Costello Meet Dr. Jekyll and Mr. Hyde (Abbott and Costello e o Monstro), de Charles Lamont     
1954: The Island Monster, de Roberto Bianchi Montero    
1954: The Hindu, de Frank Ferrin         
1957: Voodoo Island, de Reginald Le Borg         
1958: The Juggler of Our Lady, de Al Kousel (animação)
1958: The Haunted Strangler, de Robert Day     
1958: Frankenstein 1970 (Frankenstein 1970), de Howard W. Koch         
1958: Corridors of Blood, de Robert Day            
1963: Black Sabbath, de Mario Bava      
1963: The Terror (O Terror), de Roger Corman
1963: The Raven (O Corvo), de Roger Corman   
1964: Bikini Beach (Bikinis ao Sol), de William Asher       
1964: The Comedy of Terrors (O Gato Miou Três Vezes), de Jacques Tourneur 
1965: Die, Monster, Die! (Morre, Monstro, Morre!), de Daniel Haller       
1966: The Daydreamer, de Jules Bass (só voz)
1966: How the Grinch Stole Christmas!, de Chuck Jones (animação)
1967: The Venetian Affair (Missão Secreta em Veneza), de Jerry Thorpe
1967: Mad Monster Party?, de Jules Bass (só voz)
1967: The Sorcerers, de Michael Reeves            
1968: Targets (Alvos), de Peter Bogdanovich      
1968: Curse of the Crimson Altar (A Maldição do Altar Vermelho), de Vernon Sewell       
1968: The Fear Chamber, de Juan Ibañez, Jack Hill      
1968: House of Evil, de Luis Enrique Vergara, Jack Hill  
1970: El Coleccionista de Cadáveres ou Blind Man's Bluff, de Santos Alcocer, Edward Mann
1971: The Incredible Invasion, de Luis Enrique Vergara, Jack Hill           
1971: Isle of the Snake People, de Juan Ibañez, Jack Hill